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Novo “Útero Artificial” Simula Órgão Real — Inclusive com Fluido Amniótico

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Pesquisadores já testaram em carneiros novo ‘útero artificial’, promessa de melhora no cuidado de bebês prematuros.

 

O nascimento prematuro ocorre, no mundo, em cerca de 15 milhões de partos todos os anos. Apesar dos cuidados pré-natais terem melhorado consideravelmente a taxa de sobrevivência de bebês que nascem entre a 22ª e a 23ª semana de gestação, os números e os prognósticos ainda estão longe de serem os ideais. Partos prematuros são a 2ª causa mais comum de morte de crianças com menos de 5 anos de idade (atrás apenas de pneumonia).

No Brasil, no ano de 2012, 340 mil bebês nasceram prematuros, o que equivale a uma taxa de prematuridade de 12,4%.

Essa complicação é comum também em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde 1 em cada 10 partos é realizado com menos de 37 semanas de gravidez. Destes, cerca de 30 mil nascimentos ocorrem com menos de 26 semanas de gestação, o que define a prematuridade extrema e é a principal causa de mortalidade e morbidade infantil no país.

Nessa fase, os bebês geralmente pesam menos de 600 gramas e contam com uma probabilidade de 30% a 50% de sobreviver. Mesmo quando sobrevivem, há 90% de risco desenvolverem alguma sequela. Dentre elas, as doenças pulmonares crônicas são algumas das principais, dado que o desenvolvimento desses órgãos fica seriamente comprometido fora do ambiente uterino materno.

Em vista deste quadro, grupos de pesquisa médica buscam há décadas maneiras de melhorar os prognósticos e a qualidade de tratamento dos bebês que chegam ao mundo tão cedo. Recentemente, cientistas norte-americanos se basearam na natureza para desenvolver um sistema inovador, que tem ganhado manchetes e se destacado em toda a comunidade pediátrica.

fisiologista fetal Marcus Davey - utero artificial
O fisiologista fetal Dr. Marcus Davey ajudou a construir o sistema de ‘bombeamento’ do útero artificial, utilizando modernos sistemas de monitoramento e peças simples de lojas de materiais de construção. Foto: Children’s Hospital of Philadelphia, via Philly.com

 

CONHEÇA O NOVO ÚTERO ARTIFICIAL

Veja, a seguir, imagens do útero artificial em funcionamento

Um novo modelo de útero artificial pode ajudar a melhorar as taxas de sobrevivência e a qualidade de vida dos bebês que nascem antes do tempo. Desenvolvido por pesquisadores e médicos pediatras do Children’s Hospital of Philadelphia (CHOP) e divulgado no último mês na prestigiada revista científica Nature Communications, o sistema é capaz de fornecer aos recém-nascidos um ambiente ideal para que eles desenvolvam corretamente seus pulmões e demais órgãos.

“Esses bebês precisam urgentemente de uma ponte entre o útero de suas mães e o mundo”, diz o principal autor do estudo, o pediatra e cirurgião fetal Alan W. Flake, diretor do Center for Fetal Research do CHOP. “Nosso sistema pode prevenir a morbidade severa sofrida por bebês extremamente prematuros ao oferecer uma tecnologia médica que atualmente não existe”.

[O sistema] pode estabelecer um novo padrão de cuidados médicos para recém-nascidos extremamente prematuros”.

O aparato foi testado em oito fetos de carneiros, que possuem um desenvolvimento pulmonar pré-natal bastante similar ao de humanos. Eles eram o equivalente fisiológico de humanos que estariam entre a 23ª e a 24ª semana de gestação.

 

SIMULANDO O ÚTERO ‘NATURAL’ — MAS COM MUITA TECNOLOGIA

Para simular um útero da maneira mais ‘realista’ possível, o sistema mecânico consiste em um recipiente preenchido por fluido amniótico, produzido em laboratório, e ligado a máquinas customizadas que fornecem suporte fisiológico. Desta maneira, o feto cresce enquanto respira o líquido, assim como faria se estivesse dentro de um útero ‘natural’.

“Os pulmões dos fetos são feitos para funcionar em líquido, e nós simulamos esse ambiente, permitindo tanto o seu desenvolvimento como o de outros órgãos”, disse o médico Marcus G. Davey, que desenvolveu o sistema de entrada e saída do fluido amniótico do útero artificial.

 

Além disso, não há uma bomba externa para realizar a circulação sanguínea, já que pressões externas artificiais, por menores que sejam, podem sobrecarregar um coração ainda não totalmente desenvolvido. No útero artificial, é o coração do feto que bombeia sangue através do cordão umbilical para uma máquina externa ao recipiente. Esta, por sua vez, simula a placenta da mãe e realiza as trocas gasosas, removendo o dióxido de carbono e renovando o oxigênio.

Todo o ambiente é estéril e controla fatores como temperatura, pressão e iluminação. Os sinais vitais, o fluxo sanguíneo e outras funções cruciais são monitorados eletronicamente.

O novo sistema operou até 670 horas (28 dias) com alguns animais, que permaneceram saudáveis. Os carneiros respiravam e engoliam normalmente, abriram seus olhos e tiveram crescimento, maturação dos órgãos e funções neurológicas normais.

 

PRÓXIMOS PASSOS — E QUANDO O NOVO EQUIPAMENTO ESTARÁ DISPONÍVEL? 

O sistema poderá estar em uso em maternidades em cerca de 10 anos

Os pesquisadores continuarão a avaliar e refinar o sistema, que ainda está em fase de testes e aperfeiçoamentos. Os próximos passos incluem reduzi-lo a um tamanho adequado para fetos humanos – que são cerca de um terço do tamanho dos carneiros utilizados nesse estudo.

Se os promissores resultados com animais se repetirem com humanos, Flake prevê que, em apenas uma década, bebês extremamente prematuros poderão continuar a se desenvolver em câmaras com fluido amniótico ao invés de ficarem em incubadoras.

De acordo com ele, além dos benefícios para a saúde dos recém-nascidos, o novo sistema poderia ter um grande impacto econômico, reduzindo os custos médicos com partos prematuros, hoje estimados em US$ 43 bilhões anuais apenas nos Estados Unidos.

“Esse sistema tem potencial para ser muito superior ao que hospitais oferecem atualmente para bebês nascidos com cerca de 23 semanas de gestação”, afirma Flake. “Ele pode estabelecer um novo padrão de cuidados médicos para recém-nascidos extremamente prematuros”.

Referência científica

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