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Síndrome de Down: o que a Ciência nos Traz de Novo?

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De todas as alterações cromossômicas, a síndrome de Down é a mais prevalente. Muito sabemos sobre ela, mas quais são as descobertas mais recentes nesse campo? Quais as informações que elas nos trazem que podem levar a potenciais tratamentos para beneficiar nossos pacientes portadores dessa síndrome? Leiam a seguir.

 Coenzyme Q10 and pro-inflammatory markers in children with Down syndrome: clinical and biochemical aspects

Zaki ME, El-Bassyouni HT, Tosson AM, Youness E, Hussein J.
J. Pediatr (Rio J). 2017;93:100-4

Seguindo o post publicado nesta semana (Síndrome de Down: Características Que o Pediatra Deve Saber), escolhemos um artigo atual sobre o tema. Este estudo, publicado no Jornal de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria, aborda uma comparação entre os níveis de coenzima Q10, um potente agente antioxidante do nosso corpo, e de citocinas pró-inflamatórias em crianças com síndrome de Down (SD) e crianças sem síndromes genéticas. O PortalPed resume aqui os principais pontos desse artigo.

 

OBJETIVO

Foram relatadas evidências de estresse oxidativo em indivíduos com a síndrome de Down. Há um interesse cada vez maior na contribuição do sistema imunológico na síndrome de Down. O objetivo deste estudo é avaliar a coenzima Q10 e marcadores pró-inflamatórios selecionados, como interleucina 6 e o fator de necrose tumoral , em crianças com a síndrome.

Os autores explicam o motivo de terem escolhido estudar esses biomarcadores específicos. A coenzima Q10 (CoQ10) atua como eliminadora de espécies reativas de oxigênio (EROs) no nosso organismo. O estresse oxidativo é conhecido por ter um papel substancial na patologia, devido a fatores genéticos e epigenéticos. Isso sugere que o desequilíbrio oxidativo tem importante papel nos processos neurodegenerativos na SD.

Respostas imunes ineficazes na SD levam a infecções virais e bacterianas recorrentes, que contribuem para o desenvolvimento de vários sintomas fisiopatológicos, inclusive o déficit cognitivo. A disfunção do sistema imunológico na SD foi atribuída ao número reduzido de linfócitos B, a modificações do subgrupo de células T, bem como a alterações no nível de citocinas anti-inflamatórias e pró-inflamatórias, dentre as quais se destacam a interleucina 6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral ⍺ (TNF-⍺).

 

MÉTODOS

Foram inscritas neste estudo de caso-controle 86 crianças (5–8 anos) de duas instituições públicas do Egito. Essa faixa de idade foi selecionada de acordo com a frequência de casos de crianças com SD que atenderam os critérios de inclusão. No momento da amostragem, os pacientes e os controles não sofriam de doença aguda ou crônica e não recebiam terapia ou suplementos. Foram medidos os níveis de IL-6, TNF-⍺, CoQ10, glicemia de jejum e quociente de inteligência (QI) em ambos os grupos.

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RESULTADOS

Foram incluídas em oito meses (janeiro–agosto 2014) 43 crianças com síndrome de Down e 43 controles. Em comparação com o grupo de controle, os pacientes com síndrome de Down mostraram aumento significativo na IL-6 e no TNF-⍺ (p=0,002), ao passo que a CoQ10 apresentou significativa redução (p=0,002). Além disso, o índice de massa corporal (IMC) e a glicemia de jejum eram significativamente maiores nesses pacientes. Houve uma correlação significativamente positiva entre os níveis de CoQ10 e do QI, bem como entre a IL-6 e o TNF-⍺.

 

CONCLUSÃO

Os níveis de interleucina 6 e o fator de necrose tumoral em crianças mais novas com síndrome de Down podem ser usados como biomarcadores e são reflexos do processo neurodegenerativo. A coenzima Q10 pode ter um papel como bom suplemento em crianças com síndrome de Down para melhorar os sintomas neurológicos.

Os autores concluem o enunciado acima. No artigo, discutem que o mecanismo de redução da CoQ10 está possivelmente relacionado à manutenção da homeostase mitocondrial e à prevenção de produção de radicais livres. Contudo, revelam que estudos que compararam dados sobre danos oxidativos ao DNA e parâmetros de estresse oxidativo sistêmico em pacientes com SD tratados com CoQ10 concluíram que a CoQ10 não funciona simplesmente como eliminadora de EROs.

Quanto ao IL-6 e ao TNF-⍺, fazem uma ponte entre o IMC elevado e a sua associação com um padrão de ativação imune de baixo grau. Não expressam isto explicitamente, mas deixam a entender que o fato dos pacientes no grupo estudado apresentam IMC mais elevado que no grupo controle (o que possivelmente pode refletir o que ocorre em todos os pacientes com SD) pode ser a chave para o aumento desses fatores pró-inflamatórios, o que pode ocasionar maior incidência de danos neurológicos.

Não podemos negar que os resultados deste estudo são bastante promissores, mas devemos levar em consideração que a amostra estudada é bastante pequena (43 portadores de SD e 43 controles) e inclui uma faixa etária muito estreita (5–8 anos). Acreditamos que novos estudos, com amostras maiores – bem como bons estudos que comparem grupos de pacientes com SD que receberam a suplementação de CoQ10 com grupos de pacientes com SD que não receberam essa coenzima -, são necessários antes de orientarmos irrestritamente essa suplementação como forma de prevenção de processos neurodegenerativos nos portadores da síndrome.

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Antonio Junior

Médico pediatra especializado em medicina intensiva pediátrica, com graduação e especialização pela Unicamp.

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