Vacinas

Vacinação de rotina durante a pandemia de COVID-19

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Em tempos de COVID-19, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) alerta para a importância de manter em dia a vacinação de rotina. A medida também é recomendada por instituições como o Ministério da Saúde (MS), Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).

Ao mesmo tempo em que o isolamento e a limitação na circulação de pessoas reduzem a transmissão, não só do SARSCoV-2, mas de outros patógenos, o não comparecimento de crianças às unidades de saúde para atualização do calendário vacinal pode impactar nas coberturas vacinais e colocar em risco a saúde de todos, especialmente frente à situação epidemiológica do sarampo, febre amarela e coqueluche que vivenciamos atualmente.

Esse cenário traz com ele o risco de descontinuidade da vacinação rotineira. Tanto por conta da carga relacionada à COVID-19 sobre o sistema de saúde quanto da diminuição da demanda em função do distanciamento social necessário e de uma possível relutância da comunidade em se vacinar.

Segundo a OMS, a descontinuidade — mesmo que por breves períodos, — aumenta o número de indivíduos suscetíveis e a probabilidade de surtos de doenças evitáveis por vacinas. As consequências são o crescimento da morbidade e mortalidade, em especial em lactentes e outros grupos vulneráveis, e a sobrecarga dos sistemas de saúde já sobrecarregados diante da pandemia do novo Coronavírus (SARS-CoV-2).

 

A OMS considera imperativa a manutenção dos serviços de imunizações em localidades onde o serviço possa ser realizado em condições seguras.

Riscos da não vacinação rotineira

  1. Altas coberturas vacinais são fundamentais para a manutenção do controle ou eliminação de enfermidades que antes foram causas comuns de doença, hospitalizações e óbitos no Brasil.
  1. Doenças imunopreveníveis podem sobrecarregar, sem necessidade, o sistema de saúde, seja por conta da necessidade de hospitalização prolongada ou confusão diagnóstica. A possibilidade da COVID-19 cursar com exantema, por exemplo, pode ser motivo de dúvidas no diagnóstico diferencial com sarampo e dengue.
  1. Não há vacina para a COVID-19, mas pessoas de alto risco para a COVID-19, em geral, também são de risco para outras infecções preveníveis por vacinação. Baixas coberturas vacinais colocam essas pessoas em risco ainda maior.
  1. Em 2016, ano em que tivemos uma maior carga de influenza no Brasil, foram registrados 12.174 casos de síndrome respiratória grave (SRAG) e 2.220 óbitos causados pela influenza. A média anual de óbitos por influenza no Brasil é de 900 casos, cerca de 60-70% em pessoas com fatores de risco.
  1. O sarampo já foi uma das principais causas de mortalidade infantil no país. Em 1986, ano da maior epidemia da década de 1980, foram notificados 129.942 casos de sarampo, o que representou uma incidência de 97,7 por 100.000 habitantes. Em 1992, após uma Campanha Nacional de Vacinação, houve queda de 81% no número de casos notificados: de 42.934 em 1991 para 7.934 em 1992.
    A diminuição de nossa cobertura vacinal permitiu que, em 2018, o Brasil registrasse mais de 10 mil casos e perdesse a condição de eliminação do sarampo, obtida em 2016. Em 2019, o surto se expandiu e mais de 18.000 casos da doença foram confirmados. Em 2020, alguns estados, especialmente Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná ainda vivem o surto da doença.
  1. O sarampo é doença extremamente grave que interfere na imunidade do indivíduo, o que pode aumentar a chance de outras infecções, inclusive pelo novo Coronavírus.
  1. A febre amarela também demanda atenção especial, principalmente na Região Sul do país, onde já foram confirmados mais de 150 casos em macacos (epizootias) em 2020. Em 2017/18 vivemos a maior epidemia da doença de nossa série histórica desde 1980, no período de 01/07/2017 a 30/06/2018 foram notificados 7.518 casos, sendo 1.376 confirmados e 483 óbitos. Mais uma vez, a baixa cobertura vacinal foi fator primordial para isso.
  1. Outras infecções também são potencialmente graves e preveníveis por vacinas, como doença pneumocócica, doença meningocócica, tétano, difteria, coqueluche, poliomielite, diarreia por rotavírus, varicela, hepatite B, hepatite A, formas graves de tuberculose, doenças causadas pelo HPV.

A SBP e a SBIm sugerem que:

  1. A oferta das vacinas deve ser mantida de maneira regular e sustentada pelo PNI;
  2. A população deve ser encorajada a manter o calendário vacinal atualizado, procurando visitar a unidade de saúde mais perto de suas residências e em horários menos concorridos;
  3. As estratégias de distanciamento, especialmente de idosos, devem ser desenvolvidas de acordo com a realidade de cada local;
  4. A vacinação em ambientes como escolas, clubes e igrejas, neste momento áreas ociosas, deve ser estimulada;
  5. Horários diferenciados para a vacinação de crianças e adolescentes devem ser criados;
  6. Sempre que possível, a vacinação domiciliar é uma opção a ser considerada;
  7. O calendário deve ser otimizado, com a aplicação do maior número de vacinas possível na mesma visita, desde que se respeite o intervalo mínimo entre as doses, com o objetivo de reduzir o número de visitas às unidades de saúde;
  8. Clínicas privadas de imunização devem organizar seus serviços a fim de manter o distanciamento social exigido nesse momento;
  9. Não há evidências sobre a interação da COVID19 e a resposta imune às vacinas. Para reduzir a disseminação da doença, qualquer pessoa com sintomas respiratórios ou febre, deverá ser orientada a não comparecer aos centros de vacinação;
  10. Casos suspeitos ou confirmados de COVID19 poderão ser vacinados após a resolução dos sintomas e passado o período de 14 dias do isolamento.

Juntos podemos enfrentar o desafio de manter nossas coberturas vacinais e não permitir o retrocesso de todas as conquistas obtidas!

BIBLIOGRAFIA

Nota técnica SBim “Vacinação de rotina durante pandemia covid-19 ”  atualização 09/04/2020                          Nota técnica SBP/SBim- “Calendário vacinal da criança e pandemia de COVID 24/03/2020”

 

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Dr. Luis Alberto Verri

Dr. Luis Alberto Verri (CRM 51162) é médico pediatra, formado pela UNICAMP (onde realizou a residência em pediatria), especialista pela SBP e atua no Hospital Vera Cruz desde 1985 e com vacinas desde 1996.
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