O Médico da Peste: uma Figura Curiosa dos Primórdios da Medicina
Saiba quem foram os Médicos da Peste, como atuavam e o que faziam para se proteger de uma doença que matou 1/3 da população europeia.
O texto a seguir foi baseado em textos históricos, informações de museus e dados obtidos na internet. Acompanhe.
O QUE FOI A PESTE NEGRA?
A Peste Negra foi uma pandemia causada pelo bacilo Yersinia pestis que ocorreu na segunda metade do século XIV na Europa, tendo o seu auge entre os anos de 1346 e 1353. Aproximadamente um terço da população europeia morreu em decorrência desta doença — estima-se que houve de 75 a 200 milhões de mortes na Eurásia.
Segundo historiadores, a origem dessa epidemia ocorreu provavelmente na Ásia, mais precisamente na China. Gêngis Khan, com as suas hordas de nômades mongóis, conquistou toda a Eurásia setentrional no final do século XIII e, após as vitórias militares na China, seus soldados teriam sido infectados pela peste, já que essa região alberga um dos mais antigos reservatórios de roedores infectados endemicamente. Os guerreiros mongóis, então, teriam infectado as populações de roedores das planícies da Eurásia.
A Peste Negra possivelmente entrou na Europa via caravanas de comerciantes, principalmente vendedores de seda, em um fluxo de comércio conhecido como a “Rota da Seda“.
PESTE NEGRA — COMO OCORRIA A TRANSMISSÃO?
A transmissão da bactéria se dava por meio dos ratos que tinham pulgas infectadas com o bacilo. As pessoas susceptíveis eram infectadas quando picadas por essas pulgas. É provável, também, que tenha havido transmissão via piolhos. As péssimas condições de higiene pessoal, nas cidades e nas vilas da época contribuíram para a grande propagação que a Peste alcançou.
Conforme comentamos acima, as condições de vida na época resultaram em um número extremamente alto de mortes. Por falta de mão de obra para enterrar os corpos, os cadáveres passaram a ser queimados em piras, quando não eram simplesmente deixados de lado pelas vias públicas, o que, é claro, apenas ampliava o escopo da doença. Combatê-la não era fácil. Por exemplo, a fim de escapar de um destino tão terrível, em vários locais da Europa a população tentava fugir da Peste em navios, o que acabou se mostrando uma péssima ideia. Durante a viagem, os porões ficavam cheios dos cadáveres de marinheiros. Sabendo dos mortos, algumas cidades não permitiam o desembarque dos tripulantes vivos, mantendo-os em uma quarentena mortal —mas os ratos escapavam pelas cordas da atracagem e disseminavam a doença mesmo assim.
Pesquisas atuais das Universidades de Oslo, na Noruega, e de Ferrara, na Itália, contestam a tese de disseminação da Peste Negra por piolhos de rato e afirmam que, pela dimensão desta epidemia, seria muito mais plausível a transmissão por um parasita humano, por exemplo, o piolho humano.
QUAIS ERAM OS SINTOMAS DA PESTE?
A denominação de “Peste Negra” ocorreu devido às alterações cutâneas que ocorriam nas pessoas acometidas, as quais apresentavam grandes manchas enegrecidas na pele. Posteriormente, surgiam linfadenomegalia, principalmente em axilas e região inguinal. A linfadenomegalia era conhecida como “bubões” e, por isso, a Peste Negra também é muito conhecida como Peste Bubônica.
A morte ocorria rapidamente, em torno de 2–5 dias pós início da infecção, e era dolorosa.
Na Idade Média, a ciência médica não era desenvolvida e não havia conhecimento sobre a causa e sobre como tratar a Peste. O médico do papa Clemente VI, Guy de Chauliac, sobreviveu à doença e deixou o seguinte relato:
A grande mortandade teve início em Avinhão em janeiro de 1348. A epidemia se apresentou de duas maneiras. Nos primeiros dois dias manifestava-se com febre e expectoração sanguinolenta e os doentes morriam em três dias; decorrido esse tempo, manifestou-se com febre contínua e inchação nas axilas e nas virilhas e os doentes morriam em 5 dias. Era tão contagiosa que se propagava rapidamente de uma pessoa a outra; o pai não ia ver seu filho nem o filho a seu pai; a caridade desaparecera por completo.
QUEM FORAM OS MÉDICOS DA PESTE?
Os “médicos” medievais não tinham uma função de prestigio, e por isso poucas pessoas se dispunham a exercer a Medicina. O Médico da Peste era um médico especial que tratava os portadores da Peste e era contratado pelas cidades nos casos de epidemia. Normalmente, eram médicos de segunda categoria, que não conseguiram se estabelecer, ou jovens médicos. Havia muitos casos, também, em que eles não tinham nenhuma formação médica. Para se ter uma ideia, algumas das “curas” mais populares na época eram:
- sangria;
- tomar ar fresco;
- beber água de boa qualidade;
- colocação de rãs ou sanguessugas nos linfonodos;
- utilização de grande número de chás e ervas;
- fazer orações e cumprir penitências, como por exemplo ser chicoteado, eram outros métodos de “cura” muito preconizados, já que nesta época a doença era considerada um castigo divino. Assim, o doente era orientado sobre a necessidade de evitar o pecado para estar bem com Deus e merecer a sua clemência.
Nos séculos XVI e XVII, durante surto da Peste, esses “profissionais de saúde” se vestiam de forma sinistra e peculiar. Eles utilizavam máscara, capas, chapéu de aba e luvas. A máscara, geralmente preta, tinha um formato de ave e era utilizada pois se acreditava que a praga se disseminava pelo ar, através de uma “nuvem tóxica”, o miasma. Alguns relatos afirmam que o caráter sombrio do traje poderia deixar menos atrativo ao agente infectar a pessoa. A máscara tinha aberturas nos olhos de vidro e um bico onde eram colocadas especiarias (hortelã, erva cidreira, cravo…), palha, perfumes e pétalas de flores, que serviam de filtro para impedir que o miasma entrasse na máscara e para conseguir suportar o cheiro constante de corpos em putrefação.
Fazia parte da vestimenta sombria chapéus característicos, um casaco de couro preto integrado à máscara por meio de um capuz, além de luvas, botas e calça de couro bem encerados, para evitar que líquidos entrassem em contato com a pele do médico. Era frequente, também, utilizarem uma vara e uma longa colher para impedir contatos com os doentes.
Uma coisa era certa: onde esta macabra figura fosse avistada, era sinal que a morte estava por perto e a peste havia se estabelecido.
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