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Iniciados Testes para Vacina contra o Vírus Sincicial Respiratório

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Testes para a 1ª vacina contra o vírus sincicial respiratório – a principal causa de internação em crianças de até 05 anos – são iniciados nos Estados Unidos.

O vírus sincicial respiratório (VSR) é a principal causa de bronquiolite, doença que aflige os pais e que superlota os serviços de atendimento pediátrico nos meses de outono e inverno. O post de hoje baseia-se principalmente em uma recente publicação do National Institutes of Health (NIH) americano de fevereiro de 2017. Trazemos as principais atualizações a seguir.

Um estudo clínico em fase 1 está sendo conduzido pelo NIH para determinar a segurança e tolerabilidade de uma vacina contra o VSR.

O estudo também vai determinar a capacidade da vacina em promover resposta imune contra o VSR em adultos saudáveis participantes. A vacina foi desenvolvida por cientistas no Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (National Institue of Allergy and Infeccious Diseases — NIAID), um braço do NIH.

 

EPIDEMIOLOGIA DO VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO

Até dois terços das doenças pulmonares mais graves em lactentes no Brasil são causados pelo VSR. [2]

No Brasil, estima-se que 100% das crianças são infectadas pelo VSR até os 2 anos de idade [1] e a maioria sofrerá novas infecções por cepas variantes ao longo da vida. Adultos e crianças infectadas geralmente desenvolvem sintomas gripais leves, que se resolvem dentro de uma a duas semanas. Entre os lactentes, no entanto, o VSR pode se manifestar de maneira mais grave, acometendo o trato respiratório inferior e causando pneumonia e bronquiolite.

Os menores de 2 anos, crianças pequenas com cardiopatias ou pneumopatias, crianças e adultos com imunodeficiências e idosos estão entre os mais suscetíveis a desenvolver formas graves da doença. Cerca de 2% dos lactentes com menos de 1 ano infectados com o VSR necessitam de hospitalização. Crianças entre 1 e 5 anos e adultos com mais de 65 anos também têm risco maior de hospitalização.

Globalmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o VSR seja responsável por 30 milhões de episódios agudos de infecção do trato respiratório inferior em menores de 5 anos, resultando em 3,4 milhões de hospitalizações por ano. Estima-se também que ele seja responsável pela morte de 250.000 pessoas todos os anos, sendo que cerca de 90% delas ocorrem em países de baixa e média renda. [3] Nos Estados Unidos, o VSR leva em média a 57.527 hospitalizações por ano, e 2,1 milhões de crianças com menos de 5 anos procuram atendimento médico por infecções relacionadas a ele. Também atribuem-se a ele 177.000 hospitalizações e 14.000 mortes entre adultos com mais de 65 anos anualmente, conforme dados do Center for Disease Control and Prevention (CDC). [4]

 

Atualmente, não existe nenhuma vacina que previna contra infecção pelo VSR, nem há nenhuma droga disponível para seu tratamento. No Brasil (e mesmo nos Estados Unidos), o anticorpo monoclonal palivizumabe (Synagis®) é recomendado apenas para a prevenção de doenças causadas pelo VSR em crianças com alto risco e com determinadas condições subjacentes, não estando disponível para a população geral. [5]

“O VSR é subestimado como uma das principais causas de doença e de morte, não apenas em lactentes e crianças pequenas, mas também em todas as pessoas com deficiências imunológicas e nos mais velhos”, disse o diretor da NIAID, o Dr. Anthony S. Fauci. “Uma vacina para reduzir o risco desta importante doença é de suma necessidade”.

 

VACINA PARA VSR – O ESTUDO

Para o estudo, chamado VRC 317, adultos saudáveis entre 18–50 anos serão randomizados para receber duas injeções no braço com intervalo de 12 semanas, sendo divididos em um grupo que receberá a vacina investigada e em um grupo que receberá a vacina investigada conjugada com “alume”, um composto químico adicionado às vacinas para aumentar a resposta imunológica do corpo contra elas.

estrutura proteica do antigeno - vacina vsr
Estrutura proteica do antígeno presente na nova vacina contra VSR.

Os participantes também serão randomizados para receber uma de três doses da vacina (50 microgramas, 150 microgramas ou 500 microgramas) em ambos os momentos da vacinação. Efeitos adversos graves atribuíveis à vacina serão avaliados nos primeiros participantes a receberem as doses menores, de 50 microgramas. Se ela for considerada segura, a equipe de estudo então irá iniciar a vacinação nos participantes com a dosagem seguinte, repetindo esse processo até que seja atingida a administração da dose de 500 microgramas.

Os participantes deverão retornar em 12 consultas clínicas ao longo de 44 semanas após a primeira injeção. Nessas visitas, os médicos envolvidos no estudo realizarão exame físico e coletarão amostras de sangue. Eles também realizarão testes em amostras de mucosa da boca e do nariz dos voluntários para aferir as respostas imunes geradas. Os pesquisadores conduzirão uma análise de segurança diária sobre qualquer nova informação clínica, e uma equipe avaliará semanalmente os dados de segurança do estudo para garantir que a vacina preencha os padrões de segurança.

vacinacao - virus sincicial respiratorio

A vacina investigada, chamada DS-Cav1, é uma proteína única de superfície do VSR, projetada estruturalmente através de técnicas de engenharia molecular, ao invés das abordagens mais tradicionais baseadas em vírus inteiros enfraquecidos ou inativados. Em 2013, cientistas do Centro de Pesquisas em Vacinas do NIAID testaram várias versões da proteína como vacina em camundongos e primatas não humanos. As variantes da proteína provocaram altos níveis de anticorpos neutralizantes e protegeram os animais contra infecção por VSR, sendo a mais promissora a DS-Cav1.

Espera-se que o ensaio seja finalizado no prazo de um ano. Para mais informações sobre ele, visite o site clinicaltrials.gov e procure pelo identificador NCT03049488, além da página de VSR da NIAID.

ClinicalTrials.gov

 

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Antonio Junior

Médico pediatra especializado em medicina intensiva pediátrica, com graduação e especialização pela Unicamp.

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