Quais são os dispositivos para oferta de oxigênio?
Detalhes sobre equipamentos utilizados em oxigenioterapia, assim como revisão sobre hipóxia e hipoxemia
- A utilização de dispositivos para oferta de oxigênio é uma prática frequente para os Pediatras.
- A insuficiência respiratória hipoxêmica tem como umas das principais intervenções a oferta de oxigênio suplementar.
- Relembre os principais dispositivos para oferta de oxigênio, suas vantagens e desvantagens, nesta nossa revisão.
O fornecimento de oxigênio de maneira rápida e eficaz é essencial no manejo das crianças gravemente enfermas. Para que o método possa ser empregado, todavia, é obrigatório que a criança tenha respiração espontânea e eficaz. Caso a respiração seja ineficaz após abertura das vias aéreas, deve-se providenciar ventilação assistida com dispositivo bolsa-válvula-máscara (insuflador autoinflável —Ambu— ou fluxo inflável) e, depois, realizar a intubação. O fornecimento de oxigênio deve ser feito, sempre que possível, de forma umidificada e aquecida, evitando assim ressecamento das secreções e, nas crianças menores, hipotermia.
O oxigênio administrado…
- melhora a troca gasosa pulmonar;
- provoca vasodilatação arterial pulmonar pela diminuição da resistência arterial pulmonar e da pressão arterial pulmonar;
- melhora o débito cardíaco;
- diminui o trabalho da musculatura cardíaca e a vasoconstrição sistêmica.
As taxas metabólicas elevadas das crianças levam a um alto consumo de oxigênio, de 6–8 mL/kg/min em lactentes. Já em adultos, o consumo é de 3–4 mL/kg/min. Por este motivo, hipoxemia e hipóxia se desenvolvem mais rapidamente em crianças.
Entendendo a Hipoxemia e a Hipóxia
O oxigênio se difunde dos alvéolos para o sangue, onde parte dele se liga à hemoglobina e a outra parte se dissolve no plasma. A hipoxemia é a diminuição da saturação de oxigênio arterial, detectada pela oximetria de pulso ou pela gasometria arterial. A recomendação do PALS (Pediatric Advanced Life Support) 2016 é de saturação ≥94%.
Sinais clínicos de hipoxemia são:
- agitação;
- desorientação;
- confusão;
- letargia;
- coma;
- elevação da pressão sanguínea;
- alterações na freqüência cardíaca;
- arritmias;
- cianose (tardia);
- extremidades frias.
Já a hipóxia é o desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio a nível tecidual, e pode ocorrer em todo corpo (chamada de hipóxia generalizada) ou em determinada região do corpo (a hipóxia tecidual). A hipóxia pode ocorrer com ou sem hipoxemia. Para existir hipóxia, deve haver alteração de um ou mais dos seguintes sistemas: respiratório, cardio-circulatório, hematológico (anemia) ou alteração em nível celular. Assim, a hipóxia pode ser classificada em:
- HIPOXÊMICA: diminuição da PaO2 no sangue arterial, que pode ocorrer por alteração da difusão (pneumonia intersticial), alteração da relação ventilação x perfusão —V/Q (pneumonia)— ou presença de shunt intrapulmonar (síndrome do desconforto respiratório agudo —SDRA);
- ISQUÊMICA OU CIRCULATÓRIA: diminuição da perfusão tissular (choque);
- ANÊMICA: diminuição da hemoglobina, comprometendo o transporte de oxigênio aos tecidos (anemia grave);
- HISTOTÓXICA: incapacidade da célula metabolizar o oxigênio ofertado (intoxicação por cianeto e monóxido de carbono).
Indicações e Cuidados da Oxigenioterapia
As principais indicações da oferta de oxigênio são a correção da hipoxemia e a melhora da oferta de O2 aos tecidos, aprimorando, assim, a oxigenação tissular no caso de deficiência do transporte de O2. Busca-se, dessa forma, reduzir a sobrecarga cardíaca e a insuficiência respiratória aguda ou crônica.
É importante notar que o oxigênio também tem seus efeitos tóxicos, como:
- depressão do sistema respiratório e aumento da pCO2;
- atelectasia;
- diminuição da capacidade vital (pela redução do estímulo respiratório);
- redução do surfactante;
- desidratação das mucosas;
- liberação de radicais livres e
- efeitos citotóxicos.
Dependendo do tempo e da fração de oxigênio oferecida, o procedimento pode levar à SDRA e à morte. Assim, oximetria de 100% por períodos prolongados e com fração inspirada de O2 (FiO2) elevada pode ser muito deletéria ao paciente. O objetivo da oxigenioterapia é manter a oximetria de pulso entre 94 e 99%. Para algumas cardiopatias e pneumopatias, a meta pode ser de SatO2 <92%.
Escolha do Dispositivo para Oferta de Oxigênio
A escolha do dispositivo é baseada na quantidade de oxigênio a ser ofertada e na adaptação da criança ao dispositivo. A utilização de alguns dispositivos pode deixar a criança agitada, piorando sua condição clínica e aumentando o consumo de oxigênio. Sempre que possível, deixar as crianças em posição de conforto e na presença dos cuidadores.
Os dispositivos são divididos em baixo fluxo, os quais fornecem fluxo de O2 menor do que o fluxo inspiratório da criança, e de alto fluxo.
Dispositivos de Baixo Fluxo de oxigênio (≤10 L/min)
Indicação: dispneia leve, queda de oximetria sustentável >85% ou baixo risco de hipoxemia.
Dispositivos de Alto fluxo de oxigênio (>10 L/min)
Indicações: queda de oximetria moderada <85%, alteração de mais 50% da frequência respiratória normal para a idade, esforço respiratório moderado ou perfusão periférica diminuída.
Dispositivos para Oxigenioterapia
CATETER NASAL: a fração de oxigênio inspirada varia conforme o fluxo de oxigênio oferecido. Crianças dificilmente toleram fluxos maiores do que 3 L/min. Para cada 1 L/min de O2 ofertado, eleva-se a fração de oxigênio em 4%. Adultos podem chegar a fluxo de até
6 L/min.
Desvantagens: epistaxe, lesão da mucosa nasal e indução de broncoespasmo.
CATETER NASOFARÍNGEO: sonda colocada através da narina até a nasofaringe, e conectada à fonte de oxigênio com volume de 1-3 L/min. Medição do lobo da orelha até ponta do nariz. Alternar o lado a cada 8 horas.
Desvantagens: muito desconfortável, pode induzir vômitos e deglutição de ar.
MÁSCARA SIMPLES (SEM RESERVATÓRIO): fluxos entre 5–10 L/min de O2, podendo atingir FiO2 máxima de 60%.
MÁSCARA DE TRAQUEOSTOMIA: utilizada em pacientes com traqueostomia, pode atingir FiO2 de 35 a 60% com fluxo de 6–15 L/min(dependendo do fluxo, pode ser considerada “alto fluxo”).
CAPACETE, HOOD OU CAPUZ DE O2: utilizados em recém-nascidos, existem em 3 tamanhos disponíveis.
Vantagem: oferta de oxigênio umidificado e aquecido. Desvantagem: risco de toxidade de retina.
Importante seguir os fluxos mínimos de oxigênio e ar recomendados pelos fabricantes.
Oxigênio(L/min) | Ar(L/min) | Total | FiO2 |
7 | 1 | 8 | 90% |
6 | 2 | 8 | 80% |
5 | 3 | 8 | 70% |
4 | 4 | 8 | 60% |
3 | 5 | 8 | 50% |
2 | 6 | 8 | 40% |
1 | 7 | 8 | 30% |
TENDA DE OXIGÊNIO: não fornece de forma confiável FiO2 maiores que 50%, pois há perdas para o ambiente.
Vantagem: pode ocasionar mais conforto ao paciente, dada a oferta de oxigênio umidificado e aquecido. Desvantagem: FiO2 cai para 21% todas as vezes que a tenda é aberta. Névoa pode ocasionar dificuldade em visualização do paciente. Respeitar os fluxos mínimos preconizados pelo fabricante.
TENDA FACIAL (MÁSCARA DE MACRONEBULIZAÇÃO): invólucro plástico em forma de concha, que geralmente é mais bem tolerado pelas crianças.
Vantagem: permite acesso à face para aspirações sem suspender a oferta de oxigênio. Fluxos de oxigênio 10–15 L/min fornecem uma FiO2 de até 40%.
MÁSCARA DE VENTURI: muito usada em Pediatria, permite fornecer O2 de forma precisa e confortável. Tem válvulas fixas com cores ou válvula única com ajuste manual da FiO2 desejada. Todas as FiO2 necessitam de um fluxo específico. A máscara de Venturi possui um copo plástico no qual pode ser acoplado o nebulizador, permitindo assim ofertarem-se medicações (p. ex.: salbutamol) sem que haja interrupção da oferta de oxigênio.
Azul | Amarela | Branco | Verde | Rosa | Laranja | |
Fluxo O2 | 3L/min | 6L/min | 8L/min | 12L/min | 15L/min | 15L/min |
FiO2 | 24% | 28% | 31% | 35% | 40% | 50% |
MÁSCARA COM REINALAÇÃO PARCIAL (COM RESERVATÓRIO): máscara facial simples, com bolsa reservatório, sem válvula para evitar reinalação. Fluxo O2 10–12 L/min permite atingir FiO2 50-60%.
MÁSCARA SEM REINALAÇÃO PARCIAL OU NÃO REINALANTE (COM RESERVATÓRIO): máscara com reservatório, com uma válvula (uni ou bilateral) para impedir a mistura do ar ambiente durante a inspiração e uma válvula para impedir a entrada do ar exalado dentro do reservatório. Fluxo de O2 10–15 L/min fornece de forma segura FiO2 ≥95%.
DISPOSITIVOS DE ESCOLHA EM CASOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
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