Odontopediatria

Bruxismo infantil: definição, diagnóstico e tratamentos

Entenda as diferenças entre o bruxismo de sono e o de vigília, saiba como diagnostica-los e como realizar o tratamento destes distúrbios odontológicos.

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Bruxismo: uma introdução

A origem do termo bruxismo data de 1907, quando Marie Pietkiewicz1 utilizou a expressão “la bruxomanie” (bruxomania), derivada da palavra grega brychein, e cujo significado é triturar ou ranger os dentes, e da palavra mania, que significa compulsão. Posteriormente, a palavra foi adaptada e, atualmente, é conhecida como bruxismo.2,3

O bruxismo – definido como o contato forçado não funcional das superfícies oclusais dos dentes – é uma ação involuntária que envolve o apertar ou o ranger dos dentes durante movimentos não funcionais do sistema mastigatório.4 Pode ocorrer durante o dia ou durante a noite, caracterizando situações distintas, como o bruxismo do sono e o bruxismo em vigília, respectivamente.

Durante o dia, a situação mais comum é o apertamento dentário e, em raras situações, o ranger dos dentes, este podendo ser voluntário ou involuntário, e acontecendo geralmente sem a produção de ruídos.

Durante o sono, tanto o apertar como o ranger são situações comuns e os ruídos fortes estão frequentemente presentes.5

O bruxismo é uma atividade involuntária parafuncional, rítmica e espasmódica do sistema mastigatório produzida por contrações rítmicas ou tônicas do masseter e de outros músculos mandibulares e caracterizada pelo ato de ranger ou apertar os dentes tanto durante o período diurno como noturno.6

 

O ato de ranger os dentes ocorre frequentemente durante o sono, durante períodos de preocupação, estresse e excitação, acompanhado por um ruído notável. Já o apertamento, em geral sem ruídos, é mais comum durante o dia e pode ser considerado mais destrutivo, uma vez que as forças são contínuas e menos toleradas.6

Durante a infância, o bruxismo parece ser mais severo nas crianças em idade pré-escolar, embora também apareça em crianças maiores e na dentição permanente.7

 

Classificação do bruxismo

Pelas relações maxilomandibular e dentária, o bruxismo pode ser dividido em dois tipos: diurno (cêntrico) e noturno (excêntrico). O hábito, quando diurno (em vigília), consiste apenas em cerrar os dentes. Pode ser relacionado ao stress e à ansiedade, os ruídos oclusais são raramente audíveis e o indivíduo pode fazê-lo de modo consciente ou inconsciente. Muitas vezes, associam-se a outros hábitos parafuncionais, como morder objetos, lábio e bochechas.9

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Já o hábito noturno (bruxismo do sono) é mais prejudicial ao aparelho estomatognático, pois consiste no ranger propriamente dito dos dentes, e o indivíduo o faz de maneira inconsciente, resultando em contrações rítmicas dos músculos e, muitas vezes, produzindo sons de rangimento, estalos ou batimentos leves nos dentes. É mais difícil de obter seu diagnóstico, sendo evidente somente quando há relatos de parceiros ou familiares que presenciaram os ruídos ou também quando há desgastes dentais muito evidentes.9

No bruxismo excêntrico pode haver apertamento e deslizamento dos dentes na protrusão e lateralidade, e os movimentos mandibulares são bordejantes, gerando forças oclusais intensas, sendo estas muito maiores que aquelas gerada conscientemente. Essa força pode ser até seis vezes maior, resultando em excesso de carga sobre a dentição, sobre o osso alveolar, o periodonto e a articulação temporomandibular.10

 

Fatores etiológicos

Segundo Pizzol8, os fatores que predispõem ao bruxismo podem ser divididos de forma didática em:

  1. fatores locais (contatos prematuros, interferências oclusais);
  2. fatores sistêmicos (indivíduos portadores de asma ou rinite, pacientes com distúrbios do SNC);
  3. fatores psicológicos (estresse, ansiedade);
  4. fatores ocupacionais (prática de esportes de competição); e
  5. fatores hereditários.

O bruxismo pode ainda estar relacionado a distúrbios do sono ou a parassomias, fenômenos que ocorrem exclusivamente durante o sono e associados a graus diferentes de excitação (enurese noturna, falar dormindo, sono agitado).

 

Diagnóstico de bruxismo

O diagnóstico do bruxismo na primeira infância é baseado na história clínica e em relato dos pais. A presença de sinais articulares, musculares e dentários e/ou periodontais é observada em pacientes cuja evolução adentra a dentição mista e permanente sem tratamento. Os músculos, entre as estruturas mastigatórias, são os mais afetados pela dor, principalmente à palpação.

Outras manifestações são:

  • aumento do tônus muscular,
  • resistência à manipulação da mandíbula,
  • hipertrofia compensatória,
  • sensação de cansaço muscular ao acordar,
  • trismo e contração espontânea da musculatura da face.10

Há também sinais dentários representados por dentes com facetas de desgastes atípicos. Esse desgaste, acentuado ou não, pode ser localizado ou generalizado por toda a dentição e é mais importante que o desgaste funcional. Devido à complexidade da etiologia do bruxismo, deve-se ressaltar a importância do diagnóstico precoce para evitar o agravamento das consequências geradas por esse hábito ao crescimento e ao desenvolvimento fisiológico infantil.10

Na dentição decídua, é importante ter cuidado no diagnóstico, pois pode-se observar uma porcentagem menos significativa de facetas de desgaste acentuado do que a intensidade de bruxismo reportada pelos pais. O desgaste excessivo generalizado pode levar a uma redução da dimensão vertical.10

 

Formas de tratamento

bruxismo - placa de mordida
Placa de mordida

Com relação às formas de tratamento, estas variam conforme o fator etiológico, bem como com os sinais e sintomas decorrentes do bruxismo. As técnicas psicológicas são efetivas e podem ser usadas e, nos casos em que há grande tensão e ansiedade, a participação do psicólogo é necessária para que não ocorra recidiva.12

Nos casos em que o fator etiológico é de origem local, a remoção dos contatos prematuros por meio de ajuste oclusal é indicada.13

Os procedimentos restauradores devem ser realizados em alguns casos, desde que com cautela, para recuperar a dimensão vertical. Apesar das inúmeras opções, a placa de mordida continua sendo a forma de tratamento mais indicada – embora essa placa tenha efeito temporário e não substitua a atuação do dentista, que é o principal responsável em obter posições mandibulares mais fisiológicas sem contatos prematuros e interferências oclusais.8

O tratamento do bruxismo deve ser realizado em um conjunto a medidas terapêuticas, visto que o bruxismo é de etiologia variada, devendo o Cirurgião Dentista optar sempre por um tratamento multidisciplinar, envolvendo profissionais como pediatras, psicólogos, odontopediatras e otorrinolaringologistas.11 

 

 

Referências Científicas

  1. Pietkiewicz M. La bruxomanie: memories original. Rev Stomatol 1907; 14:107-16.
  2. Bader G, Lavigne G. Sleep bruxism: an overview of an oromandibular sleep movement disorder. Sleep Med Rev 2000; 4:27-43.
  3. Silva SR. Bruxismo. Rev Assoc Paul Cir Dent 2003; 57:409-17.
  4. American Academy of Pediatric Dentistry, 2006—2007, Definitions, Oral Health Policies, and Clinical Guidelines, Available in: URL: http://www.aapd.org/media/policies.asp.
  5. American Academy of Orofacial Pain, Guidelines for Assessment, Classification, and Management, American Academy of Orofacial Pain. Quintessence 1996:223-26.
  6. Diniz, MB. et al. Bruxismo na infância: um sinal de alerta para odontopediatras e pediatras. Rev Paul Pediatr 2009;27(3):329-34.
  7. Moresca, RC. Bruxismo em crianças: Etiologia e Tratamento – Revisão da Literatura. Curitiba 2016.
  8. Pizzol, KEDL. et al. Bruxismo na infância: fatores etiológicos e possíveis tratamentos. Revista de Odontologia da UNESP. 2006; 35(2): 157-163.
  9. Gomes, N.S. Considerações sobre o bruxismo infantil. 2011. 38 f.- Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Araçatuba-SP.
  10. Correa, MSNP. Odontopediatria na primeira infância. 2ª reimpressão. São Paulo: Santos, 2001.
  11. Nahas-Scocate, ACR et al. Associação entre bruxismo infantil e as características oclusais, sono e dor de cabeça. Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent.  2012, vol.66, n.1, pp. 18-23.
  12. . Haddad AE, Corrêa MSNP, Fazzi R. Bruxismo em crianças. Revista de Odontopediatria. 1994; 3(2):91-7.
  13. Ahmad R. Bruxism in children. J Pedod. 1986; 10:105- 26.
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Dra. Juliana Kuboyama

Cirurgiã dentista com especialização em odontopediatria e odontologia.
Consultório Odondológico – Sorriah Odontologia R. dos Bandeirantes, 531 – Cambuí, Campinas – SP, 13024-011.
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