Odontopediatria

Amamentação e Odontopediatria: por que o aleitamento materno é benéfico ao desenvolvimento dos bebês?

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A alimentação durante o primeiro ano de vida é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento da criança. O aleitamento materno é considerado o mais natural e desejável método de alimentação infantil, no que diz respeito aos aspectos fisiológicos e psicológicos.

A amamentação representa o fator inicial do bom desenvolvimento dento-facial, favorecendo a obtenção de uma oclusão dentária normal e, consequentemente, mastigação correta futura. Há importância da amamentação, também, no desenvolvimento de uma unidade funcional normal, isto é, de um perfeito equilíbrio neuromuscular dos tecidos que envolvem o aparelho mastigatório.1

Idade de amamentação

Veremos, a seguir, detalhamentos dos benefícios da amamentação tanto para a saúde do bebê quanto para os aspectos odontopediátricos.

BENEFÍCIOS DA AMAMENTAÇÃO NATURAL

Imunidade, laços afetivos

O leite da mãe tem sido considerado o melhor alimento para o recém-nascido do ponto de vista nutricional, pois reforça a imunidade do bebê contra doenças infecciosas e alérgicas e exerce importante papel na redução da mortalidade infantil.13

A amamentação natural tem sido incentivada não somente pelo leite materno ser o alimento mais completo e digestivo, mas também pela sua ação imunizante que protege o bebê de diversas doenças.

Além disso, durante a amamentação ocorre um íntimo contato entre mãe e filho, havendo troca de amor, fortalecendo o elo afetivo mãe-bebê, o qual é importante para o desenvolvimento psicoafetivo da criança, ajudando o bebê a se adaptar ao novo mundo.4

O bebê que mama no peito da mãe recruta os músculos certos para o correto desenvolvimento craniofacial. Este procedimento:

Conduz interação das funções de sucção, deglutição e respiração;

Ajuda no correto desenvolvimento da musculatura da face;

Favorece a defesa imunológica;

Reduz o risco de mortalidade infantil;

Ajuda na manutenção de uma coloração saudável da pele;

Contribui para uma curva de peso mais regular;

Regula a temperatura corporal;

Melhora a digestão.5

O QUE A FALTA DE AMAMENTAÇÃO NATURAL ACARRETA?

Problemas de desenvolvimento que podem ser prevenidos

A falta de estimulação adequada das funções orais e da sucção pode ocasionar alguns desvios ou modificações no desenvolvimento do sistema estomatognático, como as maloclusões, hábitos parafuncionais e a respiração bucal. Estes podem começar a se instalar em idades muito precoces, principalmente logo após o nascimento.9

A criança que não é amamentada ao seio tem a tendência de desenvolver a sucção digital, pois necessita exercitar a musculatura, já que a satisfação nutricional é mais rápida.

Todo bebê possui, ao nascer, dois estados de fome:

Fome fisiológica: mostra saciedade rápida

Fome neural: necessidade de sucção maior, justificada pelo tempo maior junto ao seio, mesmo com a fome fisiológica satisfeita.10


Crianças com menor tempo de aleitamento materno exclusivo desenvolvem, com maior frequência, hábitos orais nocivos como chupeta e sucção digital e possuem sete vezes maior risco de adquirir esses hábitos, quando comparadas com as crianças aleitadas no seio materno.11


Atualmente, a literatura a respeito da prevenção de hábitos bucais tem valorizado a amamentação natural por tempo adequado. O aspecto cultural de que chupar chupeta ou tomar mamadeira fazem parte da infância está tão arraigado no subconsciente coletivo que muitas famílias não conseguem evitar o hábito e outras até o incentivam.12

A IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO PARA O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO

Mastigação, deglutição, fala e sucção

A importância do aleitamento materno para o desenvolvimento do sistema estomatognático tem como principais funções a mastigação, a deglutição e a fonoarticulação.

No ato da sucção na mama, a criança utiliza-se de um esforço que faz com que haja a estimulação de músculos importantes, como pterigóideos, masseter, temporal, digástrico, gênio-hióideo e milo-hióideo, causando também uma fadiga que contribui para que a criança não adquira hábitos deletérios.Já quando a criança é alimentada pela mamadeira, isso exige um menor esforço, estimulando apenas músculos bucinadores e do orbicular da boca.

Amamentação Natural x Amamentação Artificial

Isso faz com que o bebê acabe buscando outros meios para satisfazer o prazer emocional que a sucção traz por meio de maus hábitos bucais como a sucção do dedo e da chupeta.6

No ato da amamentação, o número de sucções durante a mamada pode variar de 5 a 30 por minuto, mas a cada duas ou três sucções a criança inspira, deglute e expira, podendo ser observados três aspectos fundamentais, estimuladores do crescimento e desenvolvimento facial:

Respiração exclusiva pelo nariz, mantendo e reforçando o circuito de respiração nasal;

Intenso trabalho muscular realizado quando o bebê morde, avança e retrai a mandíbula, fazendo com que todo o sistema muscular, principalmente os músculos masseteres, temporais e pterigóideos, adquiram o desenvolvimento e o tônus musculares;

Os movimentos protrusivos e retrusivos mandibulares, realizados diversas vezes ao dia, exercitam ao mesmo tempo as partes posteriores dos meniscos e superiores das articulações têmporo-mandibulares, obtendo como resposta o crescimento póstero-anterior dos ramos mandibulares e, simultaneamente, a modelação do ângulo mandibular, fazendo com que a mandíbula se encontre em posição ideal para a erupção dos dentes decíduos em oclusão neutra.7,8

No ato de amamentar, a criança estimula um exercício físico contínuo que propicia o desenvolvimento da musculatura e da ossatura bucal, proporcionando o desenvolvimento facial harmônico.

Isso direciona o crescimento de estruturas importantes, como seio maxilar, para respiração e fonação, desenvolvimento do tônus muscular e crescimento anteroposterior dos ramos mandibulares, anulando o retrognatismo mandibular.14

Além disso, o ato de mamar no seio materno impede alterações no sistema estomatognático, a saber: prognatismo mandibular, musculatura labial superior hipotônica, musculatura labial inferior hipertônica, atresia de pálato, interposição de língua e atresia do arco superior, e evita maloclusões, como mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e aumento de sobressaliência.15

BENEFÍCIOS ADICIONAIS

De respiração correta à articulação têmporo-mandibular

A amamentação proporciona à criança uma respiração correta, mantendo uma boa relação entre as estruturas duras e moles do aparelho estomatognático e proporciona uma adequada postura de língua e vedamento de lábios.16

Associada ao mecanismo de sucção, a amamentação desenvolve os órgãos fonoarticulatórios e a articulação dos sons das palavras, reduzindo a presença de maus hábitos orais e também de patologias fonoaudiológicas.17

desenvolvimento da articulação têmporo-mandibular (ATM) durante o período em que os dentes ainda não erupcionaram também está relacionado à amamentação.

Essa articulação fica prejudicada se houver um menor esforço muscular para extrair alimento —como ocorre na amamentação artificial—, causando uma anulação da excitação da ATM e da musculatura mastigatória do recém-nascido.16

CONCLUSÕES

A amamentação deve ser estimulada, pois cada mamada representa uma vacina para o bebê.

O aleitamento materno fornece todos os nutrientes necessários, aumenta a proteção fisiológica e desenvolve estruturas ósseas, psicológicas e neurológicas —e isso não apenas para o momento atual, como também para todo o desenvolvimento da criança.

Diversos trabalhos mostram e concordam que o dentista, sendo um profissional da área de saúde, deve ser apto a orientar, tanto durante a gravidez quanto para as recém-mamães, as pacientes sobre a necessidade de desenvolvimento dos hábitos alimentícios corretos.

Além disso, deve justificar e enfatizar o que pode ser alcançado com a amamentação exclusiva e quais as suas relações com o desenvolvimento do complexo mandibular e do sistema imunológico.18,19,20,21,22

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. Moyers RE. Handbook of orthodontics. Chicago: Yearbook Medical; 1994.
  2. BITTENCOURT, L.P. et al. Influência do aleitamento sobre a frequência dos hábitos de sucção. Rev Bras Odontol, v. 3, n. 58, p. 191-193, 2001.
  3. SOUSA, A.M.L. A amamentação e a Odontologia. Rev Assoc Paul Cir Dent. v. 51, n. 4, p. 387. 1997.
  4. CORRÊA, M.S.N.P.; et al. Saúde bucal do bebê ao adolescente. Guia de Orientação. São Paulo: Santos, 2005.
  5. GIUGLIANI, E.R.J.; VICTORA, C.G. Alimentação complementar. J Pediatr. v. 76, n. 3. Supl. p. 253-262, 2000.
  6. SILVA, Jacqueline Lima; da; et al. IMPLICAÇÕES DO ALEITAMENTO MATERNO NO DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO. In: Anais da Mostra de Pesquisa em Ciência e Tecnologia 2017. Anais…Fortaleza (CE) DeVry Brasil – Damásio – Ibmec, 2017. Disponível em: <https//www.even3.com.br/anais/mpct2017/44095-IMPLICACOES-DO-ALEITAMENTO-MATERNO-NO-DESENVOLVIMENTO-DO-SISTEMA-ESTOMATOGNATICO.
  7. Organização Mundial da Saúde – OMS. Recomendações sobre aleitamento materno. Disponível em: http://www.unicef. org/programme/ breastfeeding/baby.htm. PLANAS, P. Reabilitação Neuro-oclusal. 2.ed. Rio de Janeiro: Medsi,1988.
  8. CAMARGO, M. C. F. de. Programa Preventivo de Maloclusões para Bebês. In: GONÇALVES, E. A. N.; FELLER, C. Atualização na Clínica Odontológica. São Paulo: Apcd. Cap. 17, p. 405-442, 1998.
  9. Ferreira FV, et al. Associação entre a duração do aleitamento materno e sua influência sobre o desenvolvimento de hábitos orais deletérios. Rev Sul-Bras Odontol. 2010 Mar;7(1):35-40.
  10. Oliveira, NMC; Botelho, KVG. Importância do aleitamento materno no desenvolvimento do sistema estomatognático na primeira infância. Ciências biológicas e da saúde | Recife | v. 2 | n. 3 | p. 75-82 | Jul 2015 | periodicos.set.edu.br.
  11. Serra-Negra JMC, et al. Estudo da associação entre aleitamento, hábitos bicais e maloclusöes. Rev Odontol Univ Cid São Paulo. 1997;11(2):79-86.
  12. Corrêa MSNP. Odontopediatria na primeira infância. 3 ed. São Paulo: Ed. Santos; 2009.
  13. Miotto, MHMB: et al. Aleitamento materno como fator de proteção contra a instalação de hábitos bucais deletérios. Rev. CEFAC. 2014 Jan-Fev; 16(1):244-251.
  14. Medetros EB, Rodrigues MJ. A importância da amamentação natural para o desenvolvimento do sistema estomatognático do bebê. Rev Cons Reg Pernamb2001; 4(2):79-83.
  15. Queluz DP, Gimenez CMM. Aleitamento e hábitos deletérios relacionados a oclusão. Rev Paul Odontol2000; 22(6):16-20.
  16. Tollara MN, et al. Aleitamento natural. In: Corrêa MSNP. Odontopediatria na primeira infância. São Paulo: Editora Santos; 2005. p. 83-98.
  17. Neiva FCB, et al. Desmame precoce: implicações para o desenvolvimento motor-oral. J Pediatr2003; 79(1):07-12.
  18. Medeiros EB, Rodrigues MJ. A importância da amamentação natural para o desenvolvimento do sistema estomatognático do bebê. Rev. Cons. Reg. Odontol. Pernambuco 2001; 4(2):79-83.
  19. Galbiatti F, et al. Odontologia na primeira infância: sugestões para a clínica do dia-a-dia. J Bras OdontopediatrOdontolBebê 2002; 5(28):512-517.
  20. Antunes LS, et al. Amamentação natural como fonte de prevenção em saúde. Ciênc. Saúde coletiva 2008; 12(1):103-109.
  21. Moimaz SA, Rocha NB, Garbin AJ, Saliba O: The relation between maternalbreast feeding and non-nutritive sucking habits. CienSaudeColet 2011, 16:2477–2484.
  22. Geddes DT, et al. Characterisation of sucking dynamics of breastfeeding preterm infants: a crosssectional study. BMC Pregnancy Childbirth. 2017 Nov 17;17(1):386.

 

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Dra. Juliana Kuboyama

Cirurgiã dentista com especialização em odontopediatria e odontologia.
Consultório Odondológico – Sorriah Odontologia R. dos Bandeirantes, 531 – Cambuí, Campinas – SP, 13024-011.

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