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Obesidade em Pediatria — uma visão geral

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Trazemos uma breve revisão sobre a epidemiologia da obesidade infantil, como diagnostica-la e quais são as estratégias mais eficientes de prevenção.

 

A obesidade era considerada um problema apenas de países de alta renda. Contudo, sua ocorrência vem aumentando em países de média e baixa renda também, particularmente em áreas urbanas. Confira abaixo uma breve revisão realizada pela nossa colaboradora em endócrino-pediatria, Dra. Mariana Zorron.

 

A incidência de obesidade mais do que duplicou desde 1980. Globalmente, existem mais pessoas obesas do que desnutridas, sendo o excesso de peso e a obesidade relacionados a mais mortes do que a desnutrição.

Em 2014, 41 milhões de crianças abaixo de 5 anos estavam acima do peso em todo o mundo

Mais de 1.9 bilhão de adultos (≥18 anos) estavam acima do peso e 600 milhões eram clinicamente obesos em 2014, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Um dado alarmante para nós, pediatras, é que 41 milhões de crianças abaixo de 5 anos estavam acima do peso em 2014.

Crianças em países de média e baixa renda são mais vulneráveis a uma nutrição pré e pós-natal inadequada, estando mais expostas a alimentos com alto teor de gordura, açúcar, sal, densidade energética e escassez de micronutrientes, uma vez que estes geralmente possuem um menor custo. Esses padrões alimentares, associados a níveis mais baixos de atividade física, resultam em aumento da obesidade infantil.

 

OBESIDADE E SOBREPESO: DEFINIÇÕES E O CÁLCULO DO IMC

Obesidade e sobrepeso são definidos como um acúmulo anormal e excessivo de gordura no organismo, podendo levar a prejuízos na saúde.

O cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) é usualmente utilizado para classificar o excesso de peso em crianças e adultos. Contudo, deve ser considerado apenas como um “guia”, uma vez que não consegue predizer a quantidade de gordura presente em cada indivíduo.

Para adultos, utilizam-se os valores de corte abaixo:

  • IMC ≥ 25 kg/m2 = Sobrepeso
  • IMC ≥ 30 kg/m2 = Obesidade

 

criancas pequenas - ppedPara crianças entre 2–5 anos:

  • Peso/comprimento ≥ 2 DP = Sobrepeso
  • Peso/comprimento ≥ 3 DP = Obesidade
Clique aqui para acessar os gráficos e tabelas
da OMS para esta faixa etária

 

criancas e jovens - ppedPara crianças 5–19 anos:

  • IMC ≥ 1 DP = Sobrepeso
  • IMC ≥ 2 DP = Obesidade
Clique aqui para acessar os gráficos e tabelas
da OMS para esta faixa etária

 

 

A recomendação do guideline publicado no ano de 2017 pela Endocrine Society é de se utilizar o gráfico de IMC dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention — CDC) em percentis para diagnosticar sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes acima de 2 anos de idade:

  • Sobrepeso ≥ p 85
  • Obesidade ≥ p 95

No caso de menores de 2 anos, a recomendação do guideline é de se utilizar o gráfico de peso por comprimento da OMS:

  • Menor de 2 anos de idade (gráfico OMS): Obesidade ≥p 97,7

 

OS RISCOS DA OBESIDADE INFANTIL

mundo - porcentagem de criancas com sobrepesoA causa fundamental da obesidade e do excesso de peso é um desequilíbrio energético entre calorias consumidas e gastas. Em todo o mundo, houve um aumento da ingestão de alimentos com densidade energética rica em gordura e, concomitantemente, da inatividade física. As mudanças nos padrões do estilo de vida são, muitas vezes, resultado de mudanças ambientais e sociais associadas à falta de políticas de apoio em setores como saúde, agricultura, transportes, planejamento urbano, ambiente, processamento de alimentos, distribuição, marketing e educação.

O aumento do IMC é um importante fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis, tais como:

  • Doenças cardiovasculares (principalmente doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais);
  • Diabetes;
  • Distúrbios musculoesqueléticos;
  • Câncer (endométrio, mama, ovário, próstata, fígado, vesícula biliar, rim e cólon).

A obesidade infantil está associada a um maior risco de morte prematura, incapacidade física e obesidade na vida adulta. Além de aumentar os riscos futuros, as crianças obesas experimentam…

  • Dificuldades respiratórias,
  • aumento do risco de fraturas,
  • hipertensão,
  • aumento de marcadores precoces de doenças cardiovasculares,
  • resistência insulínica e
  • distúrbios psicológicos.

O excesso de peso e a obesidade, bem como as respectivas doenças crônicas não transmissíveis relacionadas, são em grande parte evitáveis.

 

COMO PREVENIR E EVITAR O SOBREPESO INFANTIL?

Ambientes e comunidades de apoio são fundamentais!

Recomenda-se 60 minutos por dia de atividades físicas para as crianças, e 150 minutos semanais para os adultos.

Em um nível individual, a recomendação é a de que as pessoas limitem a ingestão de energia por meio do consumo de gorduras e açúcares, aumentando o consumo de frutas e legumes, bem como grãos integrais e castanhas, e envolvam-se em atividade física regular (60 minutos por dia para crianças e 150 minutos durante a semana para adultos).

A indústria alimentar poderia desempenhar um papel importante na promoção de alimentação saudável ​​através da redução do teor de gordura, dos açúcares e de sal dos alimentos processados.

A OMS desenvolveu um Plano de Ação Global para a Prevenção e o Controle das Doenças Não Transmissíveis 2013–2020, que visa a cumprir os compromissos da Declaração Política das Nações Unidas sobre Doenças Não Transmissíveis (DNTs), aprovada pelos Chefes de Estado e de Governo em setembro de 2011. O Plano de Ação Global contribuirá para o progresso em 9 alvos globais de DNTs a serem atingidos até 2025, incluindo uma redução relativa de 25% na mortalidade prematura de DNTs até tal data, além de uma parada no aumento da obesidade global.

criancas brincando no parque - atividade fisica

A obesidade pediátrica continua a ser uma grave preocupação pública internacional, pois ameaça a saúde e longevidade da população.

A obesidade pediátrica tem sua base em suscetibilidades genéticas influenciadas por um ambiente permissivo desde o intraútero, que se estende por toda a infância e adolescência.

O rastreio para síndromes genéticas está indicado apenas na presença de características históricas ou físicas específicas.

A prevenção da obesidade pediátrica através de dieta saudável, atividade física e meio ambiente favorável é o objetivo principal.

Uma revisão sistemática sobre tratamento da obesidade publicada no Journal of Clinical Endocrinology and Metabology em março de 2017 identificou 133 estudos elegíveis que concluíram que uma intervenção multiprofissional abrangente é a que parece ter os melhores resultados globais.

Uma intervenção multiprofissional abrangente ainda é a melhor estratégia contra a obesidade infantil

O uso de medicamentos para perda de peso durante a infância e adolescência deve ser restrito a ensaios clínicos.

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

  1. WHO | Obesity: preventing and managing the global epidemic.
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Dra. Mariana Zorron

Endocrinologista Pediátrica. Mestre em Ciências na área de concentração Saúde da Criança e do Adolescente pela UNICAMP. Membro do Departamento Científico e de Endocrinologia da Sociedade de Pediatria do Estado de São Paulo (SPSP). Atua profissionalmente como médica assistente na UNICAMP e em consultório particular. Responsável pelo ambulatório de diabetes relacionado à FC na UNICAMP.

Endereço do consultório: Clínica Affetto Pediatria – R. Bernardo José Sampaio, 339 – Sala 24, Campinas – SP

Fone: (19) 3231-1954

E-mail: contato@marianazorron.com.br

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