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Cólica do Lactente — Existe Tratamento Eficaz?

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Analisamos as últimas revisões científicas sobre tratamentos para um dos problemas mais frequentes nas crianças pequenas: a cólica do lactente.

As cólicas do lactente são frequentemente motivo de consultas ao pediatra. Com uma incidência que pode variar de 4 a 28%, costumam causar preocupação aos pais, pois acometem crianças menores de 3 meses, período em que eles ainda estão se adaptando à chegada do bebê na família. Apesar de ser um problema antigo, descrito primeiramente por Wessel em 1954, até hoje ainda não se sabe o que causa a cólica, e nem mesmo se tem causa única ou múltipla. Apesar do termo “cólica” levar a uma possível localização de dor abdominal, não se têm evidências diretas de sua localização.

bebe chorando pediatriaÉ importante ressaltar que o bebê chora, independentemente de sentir cólicas. A caracterização da cólica do lactente ainda remete à definição de Wessel de choro inconsolável por pelo menos 3 horas, ao menos em 3 dias da semana e que dura os primeiros 3 meses de vida, sem evidências de nenhuma patologia ou distúrbio nutricional associados.

Recentemente, estudos vêm associando as cólicas do lactente à enxaqueca na adolescência e as incluíram às Síndromes Episódicas da Infância, que podem ser associadas à enxaqueca. Em um estudo de coorte realizado na Finlândia, crianças que apresentaram cólicas do lactente (23% das acompanhadas) tiveram 3 vezes mais chance de enxaqueca sem aura do que aquelas que não apresentaram cólica [1][2].

 

INFORMAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O DIAGNÓSTICO

Ao atender a uma criança com choro inconsolável, é importante salientar:

  • O exame da criança deve ser realizado de forma completa, para descartar outros problemas fisiológicos ou patológicos. Destacam-se o Refluxo Gastresofágico e Alergia à Proteína de Leite de Vaca como possíveis causas de choro inconsolável para diagnóstico diferencial com as cólicas;
  • Causas simples de choro, como fome e frio, precisam ser excluídas, bem como questões relativas a padrões de sono, diurese e evacuações, bem-estar geral dos pais e situação social da criança;
  • Apoiar os pais, reconhecendo seus esforços no cuidado de seu filho, bem como o sentimento de desamparo que podem sentir vendo seu filho angustiado.

 

TRATAMENTO DA CÓLICA DO LACTENTE

Quanto ao tratamento da cólica do lactente, diversas alternativas têm sido testadas, com alguns medicamentos apresentando boa resposta. No entanto, de maneira geral, não há um tratamento padrão para esta situação. Em muitos casos somente o tempo resolverá as cólicas.

Em revisão publicada em 2008 [3] a respeito das intervenções na cólica do lactente, poucas medidas mostraram-se realmente eficazes e não prejudiciais aos bebês. O quadro a seguir mostra os resultados dessa revisão:

 

Avaliando os medicamentos utilizados para cólicas nos lactentes, em uma metanálise publicada pela Cochrane em 2016 [4], os autores concluíram:

  • Os estudos a respeito de medicamentos para cólicas no lactente são escassos e carecem de rigor; muitos possuem falhas metodológicas e amostras pequenas.
  • Simeticona e dimeticona não foram eficazes na redução do tempo de choro ou melhora dos sintomas quando comparadas ao placebo e, portanto, não há evidências de que funcionem como analgésicos nessa situação.
  • Comparados com placebo, agentes herbais (Colic Calm® — não comercializado normalmente no Brasil), açúcar e diciclomida (que não é mais comercializada por apresentar efeitos colaterais deletérios) mostraram-se benéficos na redução do tempo de choro e alívio de outros sintomas de cólica, mas os estudos ainda assim têm baixa qualidade.

 

TRATAMENTOS COM PROBIÓTICOS?

Lactobacillus reuteri - colica da crianca pediatriaMais recentemente, vem sendo indicado o uso de um probiótico, o Lactobacillus reuteri, no tratamento das cólicas infantis. A ideia por trás de sua indicação é que a colonização intestinal por bactérias Gram negativas poderia levar ao quadro de cólicas, e o L. reuteri auxiliaria na colonização intestinal com microrganismos diferentes.

Um ensaio clínico publicado em 2017 [5] com L. reuteri e que acompanhou 70 lactentes concluiu que o probiótico é seguro, porém não reduziu tempo de choro. Mais ainda, uma resposta de melhora do choro em 66% dos lactentes em uso de placebo sugere que as cólicas têm resolução espontânea aos 3 meses.

Outra revisão sistemática, também publicada em 2017 [5,6] concluiu que a suplementação com o probiótico L. reuteri em crianças amamentadas reduz os sintomas de cólicas após 21 a 28 dias de tratamento e mostrou-se segura para utilização. Reforça a necessidade de estudos com crianças em uso de fórmulas.

 

CONCLUSÕES

Assim sendo, enfatizamos a necessidade da avaliação criteriosa do lactente que chora, para inicialmente descartarmos situações patológicas. O uso de medicamentos deve ser criterioso, visto que, apesar de angustiante aos pais, a cólica do lactente é benigna e transitória. Ao pediatra, cabe avaliar os pacientes caso a caso e indicar a melhor medida terapêutica.

 

 

Referências

  1. Sillanpää M, Saarinen M. Infantile colic associated with childhood migraine: A prospective cohort study. Cephalalgia. 2015;35(14):1246–51.
  2. Gelfand AA. Infant Colic. Semin Pediatr Neurol. Elsevier; 2016;23(1):79–82.
  3. Briggs J. A efetividade das intervenções na cólica do lactente Definições e Sintomas. Best Pract. 2008;12(6):2006–9.
  4. Biagioli E, Tarasco V, Lingua C, Moja L, Savino F, Biagioli E, et al. Pain-relieving agents for infantile colic ( Review ). Cochrane Libr. 2016;(9).
  5. Fatheree NY, Liu Y, Taylor CM, Hoang TK, Cai C, Rahbar MH, et al. Lactobacillus reuteri for Infants with Colic: A Double-Blind, Placebo-Controlled, Randomized Clinical Trial. J Pediatr. Elsevier Inc.; 2017;in press.
  6. Schreck Bird A, Gregory PJ, Jalloh MA, Risoldi Cochrane Z, Hein DJ. Probiotics for the Treatment of Infantile Colic: A Systematic Review. J Pharm Pract. 2017;30(3):366–74.
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Dra. Ana Cancelier

Pediatra, com formação em Medicina pela UFSC, Mestrado em Ciências da Saúde pela UNESC e Doutorado em Ciências da Saúde na UNISUL. Professora de Pediatria na UNISUL e Pediatra na Clínica Provida (Tubarão – SC).

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