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Pitiríase Alba: o que é e como tratar

Manchas esbranquiçadas no rosto são um dos sinais mais comuns de pitiríase alba. Aprenda a diagnosticá-la e descubra os tratamentos mais eficientes.

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Manchas esbranquiçadas no corpo são uma queixa frequente nos consultórios dos Pediatras – e há uma grande chance de estarmos frente a um caso de pitiríase alba. Apesar de não ser perigosa, trata-se de uma modificação estética que causa apreensão em crianças e jovens, assim como em seus pais e cuidadores.

A pitiríase alba, apesar de tão conhecida, é pouco estudada pela maioria dos profissionais. Leia essa nossa revisão e aprimore-se no seu diagnóstico e tratamento.

 

Etimologia da pitiríase alba

A nomenclatura da doença “explica”, em parte, a sua aparência: pitiríase refere-se à presença das escamas finas e alba à coloração branca (hipopigmentação).

 

Definição de pitiríase

Áreas de hipopigmentação com bordas mal definidas, irregulares e descamação fina, que surgem após uma fase inflamatória, caracterizada por lesões eritematosas e que evoluem para clareamento gradativo [UpToDate Jun 2018, Pediatric Dermatology 2015, Medscape 2018].

A pitiríase alba representa uma dermatite inespecífica com hipopigmentação pós-inflamatória residual e está associada à atopia, exposição solar e frequência de banhos [UpToDate Jun 2018].

 

Epidemiologia

A pitiríase alba é mais comum em crianças de 3 a 16 anos, com 90% dos casos ocorrendo em crianças menores de 12 anos [Medscape 2018].

A incidência varia de 1,9 – 5,2%, sendo mais elevada nas populações com pele escura [Pediatric Dermatology 2015]. Não há um predomínio racial claro, embora as lesões sejam mais evidentes naqueles com pele mais escura.

Ambos os sexos são igualmente suscetíveis à doença, mas há uma discreta predominância do sexo masculino [Medscape 2018].

A pitiríase alba não é sazonal, embora a descamação seja mais evidente no inverno (consequência do ar seco) e as lesões são mais evidentes na primavera e no verão (consequência da maior exposição ao sol e, assim, escurecimento da pele ao redor).

A incidência da doença é muito maior em pacientes com dermatite atópica do que na população geral [UpToDate Jun 2018, Pediatric Dermatology 2015, Medscape 2018].

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Etiologia

Apesar de existirem inúmeras hipóteses sobre a etiologia da pitiríase alba, nenhuma causa específica foi determinada até o momento [Pediatric Dermatology 2015, Medscape 2018].

Um estudo mostrou que pacientes com pitiríase alba tinham maior probabilidade de apresentar níveis baixos de cobre sérico, possivelmente contribuindo para a disfunção da tirosinase e, portanto, uma diminuição na produção de melanina.

 

Fatores de Risco

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de pitiríase alba são:

  • Idade jovem;
  • Pessoas com pele escura;
  • Dermatite atópica.

Outros fatores contribuintes para seu desenvolvimento são:

  • Exposição solar excessiva em pele desprotegida,
  • Banhos longos e frequentes,
  • Esfoliação mecânica da pele,
  • Fatores ambientais como temperatura, umidade e altitude [Pediatric Dermatology 2015, Medscape 2018].

 

Fisiopatologia da pitiríase

Acredita-se que a pitiríase representa uma dermatite não específica com hipopigmentação pós-inflamatória residual [UpToDate Jun 2018, Pediatric Dermatology 2015, Medscape 2018].

As características microscópicas da pitiríase alba são as de uma dermatite leve, crônica e inespecífica, com diminuição da produção de melanina.

 

Alterações Histológicas

Na grande maioria dos casos a biópsia de pele não está indicada, estando esse procedimento reservado apenas aos casos de dúvida diagnóstica. A biópsia pode demonstrar:

  • hiperqueratose,
  • paraqueratose,
  • acantose,
  • espongiose e
  • infiltrados perivasculares.

Apesar de não existirem critérios diagnósticos específicos, algumas alterações são muito sugestivas na biópsia de pele acometida; entre elas, destacam-se:

  1. contagem normal de melanócitos;
  2. número reduzido de melanócitos ativos, com um número e tamanho diminuídos de melanossomos;
  3. melanina irregular ou marcadamente reduzida na camada basal [ Pediatric Dermatology 2015].

Glândulas sebáceas atróficas foram encontradas em quase metade dos casos de pitiríase alba [Pediatric Dermatology 2015, Medscape 2018].

 

Diagnóstico de pitiríase alba

A história e o exame físico são suficientes, na maioria dos casos, para estabelecermos o diagnóstico de pitiríase. Na história, é importante a investigação sobre doenças de base, principalmente a dermatite atópica, atopia, exposição solar sem proteção e de duração prolongada, utilização de tratamentos dermatológicos com esfoliação da pele e a frequência e a duração dos banhos.

Geralmente os casos de pitiríase são assintomáticos, mas pode haver prurido local [UpToDate Jun 2018, Pediatric Dermatology 2015, Medscape 2018]. A maior parte das pessoas acometidas procura atendimento médico por questões estéticas e após exposição solar, quando o contraste entre áreas afetadas e não afetadas aumenta pelo bronzeamento [UpToDate Jun 2018].

Diagnóstico Diferencial

  • Vitiligo
  • Tinea versicolor (pitiríase versicolor)
  • Hipomelanose progressiva
  • Hanseníase
  • Psoríase
  • Micose fungóide hipopigmentada (linfoma cutânea de células T)
  • Eczema numular
  • Tinea corporis
  • Eczema discóide
  • Nevus anemicus
  • Pitiríase rósea
  • Dermatite atópica
  • Dermatite de contato

Qualquer doença inflamatória da pele pode deixar áreas de hipopigmentação após a cicatrização. Isso pode ocorrer também por outros distúrbios, incluindo doenças fúngicas (por exemplo, tinea versicolor) e distúrbios idiopáticos (por exemplo, vitiligo).

Os distúrbios mais comuns que desencadeiam hipopigmentação da pele em crianças são: a pitiríase alba, o vitiligo, o nevo acrômico e a tinea versicolor [Medscape 2018].

 

Variantes clínicas da pitiríase

Existem 3 variantes clínicas da pitiríase:

Pitiríase alba clássica

No tipo “clássico” da pitiríase, as lesões na pele ocorrem com maior frequência nas regiões expostas ao sol, sendo a face o local mais acometido, principalmente as bochechas. Na pitiríase alba, inicialmente encontramos a presença de manchas mal definidas, levemente eritematosas e que podem apresentar escamas. Posteriormente, essas lesões acabam diminuindo, deixando áreas hipopigmentadas que retornam lentamente à pigmentação normal [Pediatric Dermatology 2015, Medscape 2018].

As lesões podem progredir através dos três estágios clínicos: lesão papular eritematosa, lesão papular hipocrômica e lesão hipocrômica suave. Geralmente, nas fases iniciais, com lesão papular eritematosa, a doença não é diagnosticada.

A apresentação mais comum é a assintomática (ou levemente pruriginosa), com lesões hipopigmentadas. As lesões podem ser um achado incidental no exame físico, embora a preocupação com a aparência por parte do paciente ou dos pais possa levar ao atendimento médico. Ao exame, encontramos múltiplas máculas hipopigmentadas redondas ou ovais (ou pápulas e placas finas) com margens indistintas, podendo haver eritema e/ou descamação leves.

O número de lesões varia de 4 a 20, medindo de 0,5 cm a 2 cm, podendo chegar a dimensões de até 5 cm. Elas são distribuídas predominantemente na face, no pescoço, na parte superior dos braços e no tronco superior [Medscape 2018].

Alterações da dermatite atópica podem ser encontradas, visto que esta é um fator de risco para o aparecimento da pitiríase alba.

As lesões da pitiríase alba regridem espontaneamente em um período de 1 mês a 10 anos, sendo mais frequente a sua resolução nos primeiros 12 meses. As lesões podem recorrer.

Esta forma clínica tem o curso clínico mais curto e a melhor resposta ao tratamento dentre as três que mencionaremos [Pediatric Dermatology 2015].

 

Pitiríase alba extensa

Fonte

É menos frequente que a anterior e acomete mais adolescentes e adultos jovens do sexo feminino.

Apresenta-se como lesões mais disseminadas e simétricas, ausência de uma fase inflamatória precedente e com dimensões > 2 cm (maior que as outras formas), geralmente acometendo outros locais além da face.

O período de tratamento costuma ser maior que o da variante clássica [Pediatric Dermatology 2015].

 

Pitiríase alba pigmentar

Fonte

É a menos frequente das três formas, e não há relato de acometimento de populações caucasianas. Acomete crianças e adolescentes do sexo feminino mais frequentemente.

Caracteriza-se por lesões azuladas, devido ao depósito de melanina, circundadas por um halo de pele despigmentada.

As lesões são numerosas, tipicamente com 1,5 cm de diâmetro, frequentemente nas bochechas e na testa [Pediatric Dermatology 2015].

 

Exames Complementares

Na grande maioria dos casos, o diagnóstico é firmado baseado na aparência clínica e distribuição das lesões cutâneas em uma criança ou adolescente. Em alguns casos de diagnóstico incerto, pode ser necessária a realização de alguns exames adicionais, baseados em outros diagnósticos suspeitos:

  • Exame com lâmpada de Wood: ajudar a determinar a presença de vitiligo, que brilhará mais intensamente e terá bordas com demarcação mais nítida;
  • Hidróxido de potássio (KOH) em raspagem da pele: será positivo se o paciente tiver tinea versicolor (também chamada pitiríase versicolor), tinea faciei ou tinea corporis;
  • Biópsia de pele: usualmente não é necessária, mas pode ser útil para estabelecer o diagnóstico de pitiríase alba se houver possibilidade de micose fungóide (linfoma cutâneo de células T) [Medscape 2018].

 

Tratamento de pitiríase alba

Medidas gerais preventivas ajudam a evitar o apareciemento de novas lesões e a repigmentação das lesões já estabelecidas. Entre essas medidas, destacam-se:

Deve ser recomendada, também, a diminuição dos tratamentos de beleza [Pediatric Dermatology 2015].

É muito importante tranquilizar pacientes e seus pais com relação à natureza benigna e autolimitada da pitiríase alba. A resolução lenta, que pode levar de vários meses a anos (apesar da maioria resolver em menos de 1 ano), deve ser informada e enfatizada. Como a pitiríase alba é geralmente autolimitada e assintomática, o tratamento farmacológico é frequentemente desnecessário [Medscape 2018]. A terapia também pode incluir o seguinte:

  • Creme emoliente: usado para reduzir a descamação das lesões, especialmente na face. A efetividade desta medicação é difícil de ser avaliada devido à dermatite atópica ser geralmente presente [Pediatric Dermatology 2015,Medscape 2018].
  • Esteróides tópicos de baixa potência (por exemplo, hidrocortisona 0,5% ou 1%, desonida a 0,05%): têm eficácia limitada [Pediatric Dermatology 2015]. Eles podem ajudar com eritema e prurido associados às lesões iniciais e podem acelerar a repigmentação das lesões existentes. Todavia, o uso deve ser limitado, para evitar atrofia da pele a longo prazo [Medscape 2018].
  • Tacrolimus pomada 0,1% e pimecrolimus creme 1%: ambos são seguros e devem ser preferidos em relação aos corticoides. Podem ser usados durante 3 meses, principalmente no tratamento das lesões de longa duração e que acometem a face [Pediatric Dermatology 2015,Medscape 2018].
  • Calcitriol (análogo tópico da vitamina D): em alguns trabalhos, mostrou eficácia comparável ao tacrolimus [Pediatric Dermatology 2015,Medscape 2018].
  • Laserterapia: alguns trabalhos mostram que o tratamento com excimer laser de 308 nm, duas vezes por semana, durante 12 semanas, mostrou-se eficaz contra a pitiríase alba [Medscape 2018].

 

Prognóstico

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Dr. Breno Montenegro Nery

Médico pediatra especializado em medicina intensiva pediátrica, com graduação pela Universidade Federal de Pernambuco e especialização pela Unicamp.
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