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Quando Usar Contraste Radiológico em Exame de Imagem? Qual o Mais Indicado?

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Existem diversos tipos de contraste radiológico, cada qual com especificidades e indicações diferentes. Veja uma lista completa e discutida sobre os usos de cada um deles.

Submeter um paciente à radiação ionizante deve ser evitado quando possível, mas não indicar contraste em um exame que deveria ser contrastado fará com que o paciente seja submetido ao dobro de radiação, uma vez que o exame precisará ser repetido. Sendo assim, você sabe quais são as indicações dos exames contrastados?

Alguns órgãos são facilmente visualizados em exames radiográficos, devido à sua radiopacidade, sendo um exemplo clássico o tecido ósseo. Outros órgãos apresentam densidade semelhante em toda sua estrutura ou são semelhantes aos órgãos próximos, impedindo sua perfeita visualização, a exemplo do estômago, dos intestinos, dos rins, das cápsula articulares, entre outros. Assim, nesses casos, é necessário o uso de contrastes radiológicos para facilitar sua visualização.

 

ORIENTAÇÕES QUANTO AO USO DE CONTRASTE RADIOLÓGICO

O contraste é uma substância administrada ao paciente com a finalidade de facilitar a visualização de algumas estruturas anatômicas em seu estado normal ou patológico, melhorando a qualidade da imagem e facilitando o diagnóstico. Alguns diagnósticos só podem ser feitos com a utilização de contraste. O contraste tem sua indicação na investigação de:

  • Infecções
  • Inflamações
  • Abscessos
  • Pesquisa de fibrose
  • Investigação, diferenciação, estadiamento e controle de tumores
  • Avaliação de fístulas
  • Estenose ou malformações do trato digestório
  • Motilidade do trato gastrointestinal
  • Alterações da anatomia do trato urinário

 

TIPOS DE CONSTRASTE RADIOLÓGICO E QUANDO SÃO UTILIZADOS

Na Radiologia, os contrastes são divididos em Iodado e Não Iodado (bário e o gadolínio). A depender do tipo, pode ser administrado por via oral, parenteral, endocavitária (administrado através de orifícios naturais, como por exemplo: uretra, reto, útero) e intracavitária (administrado via parede da cavidade em questão, como por exemplo na investigação de fístula).

 

Contrastes com Bário

crianca-raio-x-portalpedOs contrastes com Bário são insolúveis e utilizados por via oral em exames nos quais  desejamos visualizar melhor o tubo digestivo (ex: esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso), sejam eles exames de radiografia ou tomografia computadorizada. É contraindicado em suspeita de perfuração de víscera ou se algum procedimento cirúrgico suceder o exame radiológico, para evitar a contaminação da cavidade peritoneal. Se o procedimento cirúrgico não puder ser evitado ou adiado, o contraste, que não é absorvido, deverá ser removido pelo cirurgião ao cair na cavidade peritoneal. Também por não ser absorvida, essa substância dificilmente causa efeitos colaterais.

O contraste com bário normalmente é misturado a sucos concentrados para melhorar sua palatabilidade, uma vez que possui sabor desagradável. Nas duas contraindicações supracitadas, deve-se utilizar o contraste iodado ao invés do baritado, que é facilmente removido por aspiração durante a cirurgia e pode ser absorvido pelo organismo.

Contrastes com Iodo

Os contrastes com Iodo são hidrossolúveis, têm baixa lipossolubilidade, pouca afinidade de ligação com proteínas e receptores de membranas, distribuem-se no espaço extracelular e não têm ação farmacológica significativa. Eles podem ser utilizados por via oral ou intravenosa. Quando utilizados por via oral, servem para demonstrar melhor o tubo digestivo, porém, diferentemente do contraste com bário, o iodo é parcialmente absorvido pelo organismo. Já quando utilizados por via intravenosa, eles servem para demonstrar melhor os diversos órgãos, bem como vasos sanguíneos e alguns tipos de lesões (principalmente inflamatórias ou tumores). Por serem substâncias radiodensas, melhoram a especificidade das imagens obtidas em exames radiológicos, permitindo diferenciar estruturas e patologias vascularizadas das demais.

Existem dois tipos de contraste iodado:

  • Iônico: quando dissolvidos em água, tem suas moléculas dissociadas em partes carregadas eletricamente, chamadas íons.
  • Não iônico: não sofrem dissociação quando dissolvidos em água. Possuem baixa osmolaridade.

Existem apresentações para uso endovenoso, intratecal, oral ou retal

Os contrastes iodados não iônicos são mais seguros, porém têm custo mais elevado. Eles ocasionam menos reações adversas e menos desconforto local ou sistêmico.

 

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Flebografia mostrando obstrução venosa, síndrome da veia cava superior (SVCS). Retirado de Relato Caso SVCS
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Tomografia com e sem contraste de tumor cerebral. Referência

Todo paciente, antes da realização de um exame com contraste iodado, deve responder a um questionário que existe em todos os centros radiológicos, com o objetivo de identificar pacientes que sejam hipersensíveis ao iodo. Na maioria dos questionários radiológicos há uma questão sobre alergia a frutos do mar, apesar Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia Clínica (SBAI) tentar mudar esse tipo de questionário junto ao Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR). As duas alergias não têm relação entre si. A reação alérgica ao contraste é causada pela própria substância (tem vários componentes) e não tem influência dos crustáceos. A alergia ao crustáceo é uma reação imunológica (IgE mediada) a proteína da carne e/ou casca desse animal.  A alergia a frutos do mar nada tem a ver com reação ao iodo e nem aumenta o risco de reações aos contrastes iodados. E vice-versa, nem quem já teve reação ao contraste apresenta risco maior de desenvolver alergia ao camarão [1, 2]

Antes da realização do exame contrastado, é obrigatória a realização de provas de função renal. Função renal comprometida é uma contraindicação à infusão endovenosa de contraste iodado iônico. No entanto, tal contraste pode ser retirado do organismo pela hemodiálise, permitindo que pacientes que estejam em terapia de substituição renal possam receber tal contraste.

 

Efeitos colaterais dos contrastes iodados

Os efeitos colaterais mais frequentes dos contrastes iodados podem ser divididos em:

  • Leves: sensação de calor e dor, eritema, náuseas e vômitos.
  • Moderados: urticária, com ou sem prurido, tosse tipo irritativa, espirros, dispneia  leve, calafrios, sudorese, lipotimia e cefaleia.
  • Grave: edema periorbitário, dor torácica, dispneia grave, taquicardia, hipotensão, cianose, agitação, confusão e perda da consciência, podendo levar a óbito.

 

Contrastes com Gadolínio

Os contrastes com Gadolínio são utilizados exclusivamente por via intravenosa para exames de ressonância magnética. São muito seguros e muito raramente causam reações alérgicas.

 

CUIDADOS COM A RADIAÇÃO

A exposição à radiação é sabidamente um fator de risco para o desenvolvimento de câncer. Assim, devem-se seguir critérios precisos na indicação dos exames radiológicos, realizar manutenção sistemática e periódica dos equipamentos, a fim de garantir que o equipamento libere a dose mínima necessária de radiação para a realização do exame, e manter registro de imagens eletrônicas para que o paciente e o profissional de saúde possam acessá-las futuramente. Dessa forma, reduz-se a exposição do paciente à radiação.

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Ressonância Magnética de tumor cerebral com e sem contraste. Referência.

 

A dose de radiação a que somos expostos é medida em milisievert (mSv). As pessoas estão expostas constantemente a diversas fontes naturais de radiação do ambiente, tais como: cósmica, terrestre, dos alimentos, de outras pessoas, entre outras. Dependendo da localização onde reside, um indivíduo é exposto de 1 até a 3 mSv por ano, sendo a média mundial de 2,4 mSv/ano. Em alguns lugares, os habitantes podem ser expostos até a 10 mSv/ano.

Abaixo estão listados exemplos das doses de radiação a que somos expostos em algumas situações do dia a dia e nos exames radiológicos.

Apesar de preconizado, a maioria dos serviços de saúde não contam com radiologistas em tempo integral. Esses profissionais são especializados e devem orientar qual o exame mais adequado para a hipótese diagnóstica levantada, assim como auxiliar na escolha do contraste a ser utilizado e sua respectiva dose. Entretanto, não é incomum, principalmente em unidades de pronto atendimento, que esses exames sejam indicados e realizados pelo pediatra, o que faz necessário que tenhamos um mínimo de conhecimento sobre o assunto.

BIBLIOGRAFIA

Agradecimentos

A Equipe PortalPed agradece a Dra Camen Lúcia A. F. Bastos, Médica Pediatra com Especialização em Alergia e Imunologia, pela colaboração no texto na parte de reação alérgica ao contraste iodado e relação com crustáceos.

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Dr. Breno Montenegro Nery

Médico pediatra especializado em medicina intensiva pediátrica, com graduação pela Universidade Federal de Pernambuco e especialização pela Unicamp.

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